20 março, 2008

Necronomicon – O livro dos Mortos

Por Marcos Raul de Oliveira
Colaboraram com o texto: José Octávio S. Galvão

Originalmente publicado na revista Mistério da Editora Digerati em 2003.

O Necronomicon é a obra proibida escrita em pele humana e sangue, com capa Negra ou Marrom dependendo da versão traduzida: sejam elas grega, inglesa ou em latim arcaico. Perdida ou trancafiada a sete chaves no Vaticano e pertencente à lista das obras proibidas, pois conta à lenda que sua leitura transtorna a sanidade mental de quem a possuir. Algumas versões traduzidas em outras línguas são compradas em livrarias ou “baixadas” na Internet, mas nenhuma é a principal, queimada e originalmente escrita em árabe pelo louco Abdul Al-Hazred morto e devorado por uma criatura desconhecida em praça pública diante de testemunhas oculares. Hoje sabemos devido aos estudiosos, ser essa criatura um dos grandes seres assim como o Cthulhu adormecido.

Como é possível perceber nos parágrafos acima, são muitos os mitos do Necronomicon que ao contrário do que é dito, deixou de ser ficção desde que a versão impressa foi escrita e pôde ser tocada, sentida e mantida em sua estante de livros com seus mitos e “magias” criando a fábula que envolve a fantástica criação hoje utilizada como “bíblia” em pequenos grupos de fiéis, que crentes nos fatos criados admitem que a obra realmente foi escrita por inspiração de outros mundos.

As contribuições de muitas editoras e outros tantos autores que trabalharam para produzir a estória que o cerca também não pode ser esquecida, outras versões sofreram um certo aumento de conteúdo para enfatizar ainda mais a mítica e fantástica realidade da obra, incluindo informações que só foram registradas a partir do seu primeiro surgimento em um conto publicado na Weird Tales em 1924. O Necronomicon não possui registros antes dessa data.

Paradigmas e conclusões precipitadas criaram a lenda, mas o Necromicon em momento algum teve alguma contribuição esotérica em sua criação quiçá foi escrita por um ateu militante que tratava com descrença e ironia qualquer tendência mística ou crença sobrenatural e que para ele, na realidade era impossível o homem entender qualquer fenômeno transcendental, devido à própria limitação.

O surgimento real do Necromicon é explicado pelo pacato escritor americano Howard Phillip Lovecraft, nascido no ano de 1890 em Providence, Rhode Island, EUA no seio de uma família rica e em decadência financeira atormentado desde sua infância por pesadelos que inspiraram a maior parte de sua obra.

HP Lovercraft é o criador do autor Abdul AlHazred, seu apelido na época de criança quando fascinava-se com “Mil e uma Noites” contadas por seu tio, e da obra Necromicon. O autor explica em uma carta: “O Nome Necronomicon (necroz [nekros] = cadáver; nomoz [nomos] = lei; eikon [eikôn] = imagem ou (Uma imagem {ou Figura} da Lei dos Mortos)), ocorreu a mim durante um sonho, apesar da etimologia ser perfeitamente aceitável. Ao assinalar um autor árabe para um livro com seu título em Grego eu estava invertendo de maneira caprichosa a condição onde o monumental trabalho de astronomia do Grego Ptolomeu (Megalh Suntaxiz Thz 'Astronomiaz [Megalê Syntaxis Tês 'Astronomias]) é comumente conhecido pelo nome árabe Almagest (ou mais precisamente Tabrir al Magesthi), que se originou de uma corruptela do título original quando os árabes fizeram sua tradução megisth [megistê] é o superlativo de megalh [megalê], e os árabes provavelmente acharam uma boa idéia para distinguir esse de trabalhos de um outro (Ptolomeu)”. Cartas Selecionadas V, 418.

A obra fez sua estréia na revista norte-americana Weird Tales no conto The Hound (no Brasil publicado como “O Sabujo” no livro “O Horror em Red Hook”, ed. Iluminuras, 1999). “... nós o identificamos com a coisa sugerida no proibido Necronomicon do árabe louco Abdul Alhazred...”. Foi dessa referência em parte da história que nasceu o livro dos mortos, marco da literatura e da cultura fantástica universal.

Logo após essa passagem o autor que já incluirá em suas obras outros livros envoltos em mistérios voltou a mencioná-lo em diversas estórias fantásticas que produziu nos anos 20 e 30 época onde se iniciou a maioria de suas obras. O trabalho de Lovecraft atraiu um grupo de escritores que começaram a se corresponder, tornando o autor conhecido na atualidade pelo trabalho na ficção e terror e ampliando o mundo originalmente criado por ele.

Lovercraft escreveu cerca de 65 contos pequenos, 3 romances (um incompleto), dezenas de artigos e ensaios para revistas científicas e outras de ficção, algumas centenas de poemas e sonetos e mais de 100 mil cartas. Nascia o Lovecraft Circle, “fundado” pelo próprio Lovecraft e dois escritores consagrados: Clark Ashton Smith e Robert E. Howard (criador de Conan – o Bárbaro). Jovens e talentosos escritores como August Derleth, Frank Belknap e Robert Bloch, que escreveu o conto inspirador do filme “Psycho” de onde surgiu o mito de que o Necronomicon foi feito de sangue e pele.

Depois do surgimento do Necronomicon e sua especial divulgação devido ao mistério que envolvia sua história e ao grande número de adeptos ao Circulo a bola de neve desenvolve-se e originou boatos, mitos, lendas e novas versões como veremos a seguir:

FALSOS NECRONOMICONS

William S. Burroughs – traduzido e editado.

O Necronomicon De Camp - Scithers

O biógrafo de Lovecraft e escritor de ficção científica L. Sprague De Camp narra um conto de intrigas sobre de como conseguiu contrabandeá-lo, intitulado Al Azif do Iraque conseguindo escapar de vários perigos. Na verdade o livro publicado pela Owlswick Press consiste meramente de oito páginas contendo textos sírios escritos de desconexa repetidos várias e várias vezes. O próprio De Camp disse: "Eu espero que vocês se divirtam com essa introdução - mas eu também sei que vocês não vão levá-la a sério. Eu posso um dia desejar voltar ao Iraque e espero que essa minha brincadeira não crie complicações para a minha visita”.

O Necronomicon de Wilson-Hay-Turner-Langford

Pouco esforço foi necessário para se descobrir que esta versão do Necronomicon era falsa, já que o próprio Colin Wilson adimitiu isso: "De fato, qualquer um com a menor noção de latim irá instantaneamente reconhecer o livro como sendo uma fraude, ele recebe o subtítulo de O Livro dos Nomes Mortos (Aqui no Brasil saiu publicado como "Necronomicon, O Livro dos Mortos", n.t.), quando a palavra Necronomicon significa realmente o livro das leis dos mortos." De fato, qualquer um com a menor noção de latim irá instantaneamente reconhecer que o título está escrito em grego. Em sua maior parte o livro é uma coletânea de material de ocultismo, com receitas mágickas típicas se utilizando de alguns nomes existente no Mito de Cthulhu.

A versão americana também incluía dois ensaios supostamente escritos antes da descoberta da chave para decifrar o manuscrito, e se alguma coisa vale a pena nesta versão do Necronomicon são esses ensaios. Eles são: "Dreams of Dead Names: The Scholarship of Sleep" por Christopher Frayling, que por sinal incluem uma pesquisa detalhada de como Lovecraft inventou Abdul Alhazred e o Necronomicon, e "Lovecraft and Landscape", por Angela Carter.

(No Brasil este livro foi publicado pela editora Anúbis, esses ensaios foram deixados de fora e em seu lugar existe um estudo introdutório sobre os grimórios através dos tempos e algumas partes do Grimório do Papa Honório III, n.t.).

O Necronomicon de Simon

Este é o Necronomicon que se qualifica como uma fraude completa ao invés de simplesmente uma brincadeira ou um jogo entre amigos. Existem uma série de problemas com este volume, todos indo contra a sua proposta do texto real do Necronomicon. O editor afirma que o original não pôde ser entregue a público para qualquer tipo de confirmação ou exame e que os autores trabalhariam a partir de cópias fotográficas para redigir o livro, mas não permitiu a constatação das mesmas. Além disso, eles afirmam que o manuscrito é em grego quando Lovecraft deixa bem claro que a versão grega do texto se perdeu há séculos.

É evidente que a maior parte do trabalho é composto de adaptações de textos mágicos e religiosos existentes da Mesopotâmia reais, com alguns nomes inventados pr Lovecraft espalhados aqui e ali quando não se conseguiram traduzir o texto original. Simon também joga no caldeirão materiais Sumérios, Assírios, Babilônios e outros sem discriminar o que é o quê, de uma maneira historicamente impossível de acontecer. As partes supostamente representando línguas originais usadas em vários encantamentos são aparentemente grunhidos sem sentido.

Simon gostaria que enxergássemos grandes semelhanças entre seu material mesopotâmico e o trabalho de Aleister Crowley e o Mito de Lovecraft, mas não nos oferece nenhuma correspondência entre eles além de notar a correspondência entre o Mito de Lovecraft e a mitologia mesopotâmica. Ele nos diz: "Lovecraft nos mostrava algo semelhante à mitologia cristã e seu combate entre forças opostas entre Luz e Trevas, entre Deus e Satã, no Mito de Cthulhu."

E novamente: "Basicamente existem dois grupos de deuses no mito: Os Deuses Mais Antigos, sobre os quais pouco nos é revelado além do fato deles serem uma raça estrelar que ocasionalmente vem até a Terra para salvar a humanidade, e que corresponderiam à 'Luz' no cristianismo; e os Antigos, sobre os quais muito é dito, às vezes em muitos detalhes, que correspondem às 'forças das trevas'. Esses últimos são Deuses Cruéis que não desejam outra coisa que não o mal para a raça dos Homens e que constantemente tentar voltar para o nosso mundo se utilizando um portal ou uma porta que liga a dimensão deles à nossa."

O conhecimento moderno sobre a obra de Lovecraft nos mostra que esta descrição não bate com seu trabalho no qual não existem Deuses mais Antigos nem um conflito cósmico entre o bem e o mal. O termo "Os Mais Antigos" (The Ancient Ones) só é usado em uma história, e nela é explicado de forma clara que eles são moralmente indiferentes à existência do Homem e não que sejam 'malvados'. De fato esta é uma descrição precisa do Mito de Derleth ou invés do de Lovecraft, isso se levarmos em consideração que atribuir conceitos de bondade e maldade às deidades mesopotâmicas "Os Deuses mais Antigos" e "Os Antigos" é a maior tentativa de sincretizar os dois sistemas, e aparentemente essa tentativa foi feita em vão.

Em se tratando das deidades de forma individual Simon não se sai melhor. Cthulhu surge como sendo KUTULU, um nome que nunca apareceu entes desta publicação. Simon deriva este nome de KUTU, a cidade Kutha, e LU, que significaria homem. O problema é que a forma suméria correta seria LU-KUTU se fossem fazer uma composição das palavras. De qualquer forma o nome Cthulhu tem origem alienígena e por isso não faz sentido querer procurar sua origem em alguma cultura humana.

Existe também um Livro de Feitiços do Necronomicon de Simon (originalmente intitulado The Necronomicon Report), que não passa de um livro dedicado aos feitiços que aparecem no capítulo "O Livro dos Cinqüenta Nomes". Outro volume intitulado The Gates of Necronomicon (Os Portões do Necronomicon) foi anunciado como lançamento futuro pela editora, mas aparentemente o projeto nunca foi levado a diante. A editora americana Avon Books recentemente relançou o livro Os Feitiços do Necronomicon.

Existem vários rumores sobre a real identidade de "Simon". Um deles diz que ele seria na verdade Herman Slater, o proprietário da livraria Magickal Childe em Nova Iorque, que por sinal recebe algumas menções no livro. Outro desses rumores afirma que ele era um mago precisando de dinheiro e que subseqüentemente fez fama no rama da Magia Caótica. Outros rumores mais improváveis dizem que os reais responsáveis pelo Necronomicon de Simon poderiam ter sido um dos seguintes: L. Sprague De Camp, Colin Wilson, L. Ron Hubbard, Robert Anton Wilson, Timothy Leary ou Sandy Pearlman (o escritor das letras inspiradas por Lovecraft da banda Blue Öyster Cult).

O Necronomicon de Gregorius

Publicado na Alemanha em alemão intitulado como Das Necronomicon: Nach den Aufzeichnungen von Gregor A. Gregorius (O Necronomicon: Da Trancrição de Gregor A. Gregorius). Esta é simplesmente uma tradução do Necronomicon de Simon. O volume inclui também uma versão alemã de um autêntico grimório medieval intitulado Goetia ou Lesser Keys of King Solomon.

O Necronomicon de Quine

A suposta tradução do Necronomicon feita por Antonius Quine parecer ser tão falsa que ela sequer existe.

O Necronomicon de Ripel

Publicado por Frank G. Ripel, cabeça da Ordo Rosae Mysticae (Ordem da Rosa Mística), na Itália, 1987-1988, como parte da Trilogia Sabaean inclui um livro chamado Sauthenerom, de origens egípcias e um texto do Necronomicon, que supostamente teria 4000 anos de idade e que teria sido plagiarizado por Abdul Alhazred.

O Necronomicon de Perez-Vigo

Recentemente publicada na Espanha a versão de Fernando Perez-Vigo inclui um Tarô Necronômico juntamente com um texto derivado dos Necronomicons de Ripel e de Wilson-Hay-Turner-Langford.

O Necronomicon de Lin Carter

Lin Carter escreveu vários contos curtos que supostamente seriam capítulos da tradução do Necronomicon feitas por John Dee. Elas relatam várias aventuras de Abdul Alhazred. Obviamente e explicitamente declaradas como sendo fictícias estas versões inclusas simplesmente para deixar o trabalho o mais completo possível.

A versão de Lin Carter está inclusa em um volume disponibilizado pela Chaosium, editada por Robert M. Price e entitulado The Necronomicon: Selected Stories and Essays Concerning the Blasphemous Tome os the Mad Arab, contendo uma série de trabalhos interessantes.

O Necronomicon de H.R. Giger

O surrealista suiço H.R. Giger usou o título Necronomicon para uma compilação de sua arte necroerótica. Obviamente este trabalho não clama ser o Necronomicon autêntico, mas foi incluído aqui não somente para tornar a , mas como forma de elogiar seu fantástico trabalho. Giger também produziu uma seqüência a seu trabalho intitulado Necronomicon II.

The Necronomicon Project

Este é um trabalho em conjunto para criar um Necronomicon falso na Internet. Não existe nenhuma tentativa de se provar que os resultados deste trabalho sejam o real Necronomicon.

 

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