05 outubro, 2014

Crônicas de um voto

Levanto. Tomo banho. Penso, não falarei com ninguém mesmo, coloco a mesma camiseta que dormi, pego a jaqueta, um vento gelado em um dia de sol.
Sigo para o Mackenzie em silêncio pensando no que descobri ontem: se eu morrer depois da minha mãe, não serei doador de orgãos pois ninguém poderá assinar por mim, essa é a regra. Bate uma depre básica e sigo meu caminho pensando sobre minorias.
Vou observando a rua: pessoas com cachorro, famílias, crianças, idosos... Uma bêbada na esquina, com camiseta do Metallica cantando sertanejo não identificável, churrasco na calçada com linguiça e um pedaço de carne com mais gordura do que carne.
Subo para o local de votação, seção 179, vejo um mesário tão elegante  mas tão bem arrumado, que fico envergonhado de estar tão mulambento: dormi de calça jeans e camiseta e nem o tênis eu tirei, meu deus! Ele parece tão bem vestido. Será que se sente bem, todo empoado? Sigo em frente.
Chego no lugar adequado. Sem filas. Só os mesários e um cara da vara eleitoral que está passando orientação de costas pra porta...um pigarro estudado me incomoda.
-Arãm. Nenhuma reação. Tosse.
-Ah, pode vir.
O mesário está.fanho de gripe  sinto pena dele.
Voto. É rápido.
Desço de elevador e uma senhorinha, feliz, me conta que votou no Alckimim. Sorrio pensando: pq? Não prolongo o assunto.
Saio. Vejo uma starbucks dentro do Mackenzie e penso como sou sortudo por não estudar lá, mesmo não achando lá grande coisa o café deles gastaria meu dinheiro em chocochips. Ufa.
Sigo meu caminho de volta.
Paro para um café. Funcionárias mau humoradas. Café com um gosto estranho. Lugar bonito.  Pago, saio, acendo um cigarro já caminhando de novo. Troco mensagens no whatsapp com um novo companheiro de jornada. Sorrio da viagem e sigo caminhando.
Um cara com tantos adesivos no corpo quanto possível passa por mim: não teve infância ou é canditado, não consigo ler. Abstraio.
Na frente da igreja da consolação sou interrompido por um casal que me pede para fotografá-los com o celular. Faço a foto, os dois cavalheiros me agradecem. Sigo pensando que preciso trabalhar e que desejo dar uma volta de moto. Sigo pensando má confiança de.compartilhar o smartphone ali, naquela região um tanto perigosa. Enfim... Atravesso a rua em direção ao meu prédio.
Cruzo um doidão, na esquina: "vai na fé"  sinal de joinha, "vai na fé" para cada um dos passantes. Sorrio da pluralidade. Cheguei. Queria compartilhar o tanto de coisas em pouco quarteirões. Qual será a próxima.

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