03 agosto, 2009

Sete Chaves

Capitulo 1 – O ritual

A memória é deveras um pandemônio, mas está tudo lá dentro, depois de fuçar um pouco o dono é capaz de encontrar todas as coisas. (BUARQUE, 2009, p. 41)

E

ntão ele abriu os braços em formato de cruz. Olhou para cima e cerrou os olhos como se fosse capaz de ver além da cúpula que estava sobre sua cabeça. Em seguida olhou para esquerda e murmurou algumas palavras ininteligíveis. Virou a face para direita e murmurou outras palavras enquanto olhos crédulos acompanhavam seu ritual simbólico. Olhou para os pés, murmurou algumas palavras e escarrou em uma vasilha apropriada. Então, olhou fixamente para frente, além daqueles que estavam acompanhando e retirou da túnica ornamentada de dourado e verde um molho de 15 chaves.

− Para as 7 chaves da esquerda, abro os caminhos que estão a minha esquerda.

Passou a mão do centro para a esquerda do molho de chaves tilintando cada uma delas.

− Para as 7 chaves da direita, abro os caminhos que estão a minha direita.

Repetiu o gesto anterior a partir do centro para a direita.

− Abrirei vossos caminhos a partir deste espaço.

Pegou a chave do meio, vermelha, feita do mais puro cobre segundo o que lhe informará o vendedor, e dirigiu-se pelo passeio central entre aqueles que o acompanhavam e abriu a porta que lacrava o espaço.

Todos ali haviam entrado no recinto por portinholas a esquerda e a direita do altar improvisado no casebre que ele possuía para seus ritos. A sala fora enfeitada com símbolos de todas as religiões e apenas 14 cadeiras estavam dispostas, 7 do lado direito e mais 7 do lado esquerdo.

− Que a luz possa entrar por esta porta e aspergir o caminho de todos que estão presentes e que todos aqui encontrem a direção certa que procuram segundo a luz que se fez.

Guardou o molho de chaves e retornou para o altar improvisado.

Com um pequeno controle remoto em seu bolso pressionou play para que os cânticos iniciassem em um estéreo pequeno localizado ao alcance. Ajoelhou-se, fechou os olhos como se entoasse as mais profundas orações e pensou: “Deus, por que, por mais que eu tente abrir os caminhos daqueles que estão ao meu lado, o meu caminho parece tão escuro? Por que não mostras um sinal de que cada um desses rituais que todos crêem funcionar tão bem, para mim parecessem apenas alegorias para que os mais inocentes acreditem que eu tenha algum poder dado por ti ou por teus guardiões?”.

- Vão em paz amigos, sigam seus instintos que as repostas serão dadas aqueles que têm fé.

Um a um os que estavam sentados nas 14 cadeiras deixaram o local com comentários abafados e olhar baixo.

“Como é possível um ritual tão pequeno e curto operar tantos milagres” pensava um.

“Como é que ele faz isso? Será que ele foi abençoado quando era pequeno” pensava outro “mas da última vez que vim consegui reatar com a Maria, o cara é bom mesmo”.

“Queria entender o ritual que ele faz, o que tantos símbolos fazem no altar dele, ele é um idiota, como sobrevive com isso?” pensava o outro enquanto olhava para traz e via Dulceu Esfier sentado ao pé do altar observando todos que saiam.

- Vá em paz amigo a minha desavença é minha cruz – sibilou Dulceu Esfier para surpresa de Méaom enquanto este ainda pensava nas coisas que já havia ouvido falar e nas coisas que ele mesmo presenciara e relutava em acreditar.

Quando todos saíram, Dulceu levantou-se com um gemido de dor nas pernas, olhou para o centro do altar onde havia um incensário que deixava escapar um pouco de vapor e orou em silêncio para que ele obtivesse a iluminação que desejava.

“Gostaria ó Pai, que mesmo eu sendo sua ferramenta, pudesse transmitir de alguma maneira palavras e bênçãos que acreditasse ser possíveis de acontecerem. Gostaria de não duvidar mais, de olhar para frente com a fé redobrada de quando eu era jovem e cria que era possível milagre acontecer.” Então abriu os braços e falou:

- Que o chão trema! Que a luz da lua se esconda! Que a vela que ilumina este santuário se apague!

Com o coração aos pulos observou que absolutamente nada aconteceu.

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