23 agosto, 2015

10/11 dicas de como transformar seu texto

No projeto de voluntariado da ONG Velho Amigo com o apoio da ONG História Viva transformamos as histórias contadas pelos idosos em textos para crianças. Tentamos, por vezes, trazer ao idoso um sentimento de alegria em memoração as coisas boas ou engraçadas da sua vida. Nem sempre é possível, mas ai o ouvidor transformador precisa pegar a melhor parte e trazê-la para superfície.
Ter em mente que o objetivo é ouvir, transformar, contar.

Algumas vezes, seremos somente a válvula de escape para aquele momento dificil, para aquela crise de ansiedade ou saudade.  Porém é imprescindível ñ esquecer o simples: o ouvidor ouve (escuta, presta atenção) e se puder ajuda na transformação ali mesmo. 

E, em dia ruim, uma música ou uma recordação boa pode trazer risos, pode mudar o clima.
E é esse sentimento que queremos passar, ao menos, penso que seja assim. Dou meu tempo, meu ouvido e meu filtro mágico transformador de atenção e "prestençãoow" para esse fim (ouvir e transformar). Se puder sorrir, esse sim é o melhor compartilhamento.

Até porque, quem ouvirá a história costuma ser exigente e história chata, sem chances de sobreviver.

Muito do trabalho que fiz escrevendo textos fantásticos no Tinta Rubra que fundamos há 15 anos, (quem não sabe  o que é dê um google) ajuda a trabalhar melhor esse processo de transformação (escrever é um exercício constante) e, embora as propostas sejam diferentes, e claro, escrever para um público que varia de 3 a 13 e 70 a 90 não seja uma das tarefas das mais fáceis, algumas dicas são importantes e fundamentais.

Antes continuar: - são dicas pessoais que tento aplicar, que quero compartilhar. Cada um é livre para ler ou ignorar se for o caso ;) não sou o mestre dos magos com a fórmula mágica, leia se quiser e adapte por sua conta e risco.

Vamos lá:


1) Faça orações/frases curtas
Concorremos com a atenção ou a falta dela.
Um rebuscamento textual só prejudicará a compreensão.
Escreva linhas para um único sentimento, pois mais sentimentos esbarram em outros e a atenção já era.
Conte algo. Explique. E fale do outro assunto. Em pequenas doses. Contestar, deixe para o trabalho acadêmico. Aqui você estará criando uma história, não um dissertação.

2) Faça histórias curtas
Não existe um tamanho ideal. Vale o mesmo para parte da explicação acima.
Concorremos com a atenção e com a falta dela. Concorremos com personalidades, jeitos e conhecimentos diferentes. Com celular em alguns casos.
Não é porque você gostou da sua história que vai escrever um livro e "obrigar" seu público a ouvi-la.
No nosso caso ainda, há momentos que contaremos mais de uma história.
Pense em uma folha no máximo, com letras grandes para você conseguir fazer uma leitura em voz alta e de olho no seu público.

3) Leia em voz alta o seu texto
Conte a história para alguém que esteja ao seu lado.
Conte a história para você mesmo. Pode ser no banheiro, no microfone com fone de ouvido. Em um vídeo. Mas ouça-se, é importante.
Pegue opiniões, viaje, veja como está a captura de atenção.
Ouça-se. Perceba. Aceite que fez feio ou errado e faça de novo.
Veja onde pode tirar palavras ou trocar por algo que fique mais audível, mais fluído.
Em voz alta você percebe muito melhor que em silêncio.
Se estiver começando e tímido, grave para você ouvir, se você mesmo se distrair, já sabe né? Não vai pegar.

4) Use fonte 18 sem culpa.
Quando você ler a história para seus espectadores estará em volta de muita gente. Letras miúdas não abrirão espaço para você olhar para o lado. Nem ler de longe, gesticulando, olhando para seu ouvinte e percebendo o tédio ou a ansiedade de ouvir a próxima frase.
Além disso, O idoso que você presenteará na maioria das vezes terá catarata ou deficiências visuais, não o obrigue a pegar a lente de aumento.
Para a criança, você precisa estar literalmente com um olho no gato e o outro no prato! Letras pequenas requerem atenção. Letras grandes, você consegue focar em duas coisas.

5) Não passe lição de moral
O idoso é um ancião. Embora ele esteja com os filtros quase sempre desligados e sejam de "outra época" (não sei onde, mas fica pra outra discussão) eles tem o triplo de vivência que você. Eles já fizeram (se puderam) aquilo e muito mais que você já fez. Respeite o cabelo branco. E para crianças, leve o coração aberto, ensine com exemplos e modos e não com uma lição de moral.
Se quiser passar alguma ensinamento, aproveite a história contada pelo idoso.

6) conte Uma história
Aqui não vale a regra compre um leve três! Empenhe-se no fato, naquele instante. Naquela história. Mais que isso é: mais. Se quiser ter uma história, tenha UMA história! :-}

7) seja falho
Se alguém que chegou até aqui e ainda acredita que é dono da verdade, procure um psicólogo. Mas sempre é bom lembrar que nossa luta com o espelho é a mais difícil. Aceitar que fizemos um texto ruim, aceitar que não foi bom o suficiente, aceitar que todo o trabalho gerou mais trabalho é difícil, mas é importante.
Não fique com uma história que você não acredita.
Mude toda ela. É uma história!

8) Não faça uma reportagem.
Seu Tião, 98 anos, nascido em Pernambuco, com 10 filhos viu um fantasma. Não. "Existia naquela terra encantada o Tião, um ancião que beirava os 100 anos. Uma noite, com seus 10 filhos viu um fantasma!” Melhor talvez. Tente você.  
Não é uma entrevista e não é uma reportagem ou relatório.

9) ache seu jeito
Não precisa ser um poema, não precisa ser um conto de fadas, não precisa ser uma fabula. Pode ser uma ficção cientifica. HaiKai. Rimas soltas. Pode ser no futuro e não tem que começar com era uma vez. Faça o exercício: escolha uma coisa que aconteceu com você ontem e conte para alguém essa coisa pensando em como está contando. Depois tente fazer a mesma coisa "no papel".

10) não existe verdade
Um idoso poderá estar de péssimo humor e a criança poderá nem ligar pra você; aceite, mesmo que você siga todas as dicas. Além de praticar é preciso perder a vergonha, se jogar.

11) Concreto
Essa é uma dica mais técnica: as "inteligências" são diferentes. Se você estudou é capaz de entender abstrações e essas abstrações o remete a coisas que você não conhece.
Quem teve menos oportunidades, ou quem ainda está em formação, tem mais facilidade em identificar o dia a dia, o mais concreto.
Ao invés de bordô, use roxo.
Em vez de havia um círculo, havia uma bola.
É na simplicidade que está a facilidade para transmitir aquilo que você quer dizer, não dê voltas, seja concreto como um tijolo. E leve, como uma pluma.



Do resto é muito exercicio e leitura (em voz alta do que você escreveu). :)
Boa sorte.





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